Jornal de Negócios

IMPERDÍVEL

-

Rezam as más-línguas do mundo pop que Beyoncé terá decidido fazer um álbum baseado no universo da “country music” depois de, em 2016, ter sido vaiada na gala dos prémios da Country Music Associatio­n. Uma cantora negra entrar no terreno da “country music”, sulista, branca de nascimento, pode parecer algo de estranho – apesar de grande parte dos músicos mais procurados para acompanhar­em as gravações nos estúdios de Nashville, a capital da música “country”, serem de origem afro-americana. A “country”, recordo, é o terreno de origem de Taylor Swift, onde ela cresceu e se fez uma estrela. No fundo, Beyoncé entrou a pés juntos nesse mundo da música branca tal como Eminem tinha entrado a pés juntos no terreno do rap, na época dominado por negros. Do ponto de vista de produção, este “Cowboy Carter” vai buscar influência­s a muitos lados e, do ponto de vista de distribuiç­ão de royalties, vai ter uma factura pesada – ela foi buscar inspiração a nomes como Dolly Parton, Willie Nelson, Chuck Berry, Lee Hazlewood, Beach Boys, Hank Cochran e até Beatles. As suas versões de “Blackbird” dos Beatles e “Jolene” de Dolly Parton vão ficar para a história da pop. Mais que fazer um disco country, Beyoncé trabalhou sobretudo a partir da tradição da música “cajun”, do Louisiana, envolvendo-se aqui e ali nos blues. Nas 27 faixas que se desenrolam em 80 minutos, na versão disponível nas plataforma­s de streaming, que é mais longa que as versões editadas em formato físico de CD e LP. Temas como “16 Carriages” ou “Daughter”, com o pano de fundo de guitarras sobre as quais surge a incontorná­vel voz de Beyoncé, são também imagens sonoras do seu enorme talento, assim como o hip hop de “Spaghetti” é o contrapont­o do “country” de “Texas Hold’em”. Este “Cowboy Carter” é um marco da música popular norte-americana. Não o percam – está nas plataforma­s de streaming.

 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal