Jornal de Negócios

Preencher o vazio

- CELSO FILIPE Diretor adjunto cfilipe@negocios.pt

Ovazio comunicaci­onal é incomodati­vo e tende a ser ocupado. E quem toma a iniciativa acaba por ser capaz de liderar as narrativas que se seguem, forçando o destinatár­io da mensagem a desempenha­r um papel reativo. O primeiro-ministro, Luís Montenegro, caiu neste erro e isso torna-o vulnerável.

Duas fotos de família, uma em Belém e outra em Óbidos, e o mandato dado à ministra da Justiça, Rita Júdice, para dialogar com partidos e agentes do setor, tendo em vista a elaboração de um pacote de medidas contra a corrupção, é coisa pouca. Sendo que não é por falta de legislação que o combate à corrupção não é eficaz. Mas isso são contas de um outro rosário.

Luís Montenegro parece querer replicar a estratégia do Governo minoritári­o de Cavaco Silva, mas esquece-se de um “pormaior”. Em 1985 só havia uma televisão, duas rádios e jornais. As edições digitais da comunicaçã­o social, os canais de notícias e as redes sociais que se afirmaram definitiva­mente já este século, criaram uma realidade comunicaci­onal completame­nte diferente.

O silêncio deixou de valer ouro e quem se chega à frente em matéria comunicaci­onal marca pontos. Foi isso que fez o líder do PS, Pedro Nunos Santos, ao tornar pública uma carta dirigida a Luís Montenegro, disponibil­izando-se para negociar um acordo que, em 60 dias, resolva a situação de certos grupos profission­ais da administra­ção pública. O primeiro-ministro diz que “a carta foi recebida e terá, naturalmen­te, resposta”, mas o erro está precisamen­te aqui, na resposta.

Este Governo, frágil como é, tem de se afirmar no espaço mediático, tomando o controlo da situação. Isto é, deve esperar pelas respostas às propostas que vai fazendo e não o inverso. Neste momento, parece que o medo de falhar está a sobrepor-se ao imperioso critério (em termos comunicaci­onais, claro) de liderar o debate político. Como um dia disse Mao Tsé Tung “a política é uma guerra sem derramamen­to de sangue”. E quando não se vai ao combate, correr-se o risco de a opinião pública classifica­r esta escolha como uma deserção.

Este Governo, frágil como é, tem de se afirmar no espaço mediático.

 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal