Preencher o vazio
Ovazio comunicacional é incomodativo e tende a ser ocupado. E quem toma a iniciativa acaba por ser capaz de liderar as narrativas que se seguem, forçando o destinatário da mensagem a desempenhar um papel reativo. O primeiro-ministro, Luís Montenegro, caiu neste erro e isso torna-o vulnerável.
Duas fotos de família, uma em Belém e outra em Óbidos, e o mandato dado à ministra da Justiça, Rita Júdice, para dialogar com partidos e agentes do setor, tendo em vista a elaboração de um pacote de medidas contra a corrupção, é coisa pouca. Sendo que não é por falta de legislação que o combate à corrupção não é eficaz. Mas isso são contas de um outro rosário.
Luís Montenegro parece querer replicar a estratégia do Governo minoritário de Cavaco Silva, mas esquece-se de um “pormaior”. Em 1985 só havia uma televisão, duas rádios e jornais. As edições digitais da comunicação social, os canais de notícias e as redes sociais que se afirmaram definitivamente já este século, criaram uma realidade comunicacional completamente diferente.
O silêncio deixou de valer ouro e quem se chega à frente em matéria comunicacional marca pontos. Foi isso que fez o líder do PS, Pedro Nunos Santos, ao tornar pública uma carta dirigida a Luís Montenegro, disponibilizando-se para negociar um acordo que, em 60 dias, resolva a situação de certos grupos profissionais da administração pública. O primeiro-ministro diz que “a carta foi recebida e terá, naturalmente, resposta”, mas o erro está precisamente aqui, na resposta.
Este Governo, frágil como é, tem de se afirmar no espaço mediático, tomando o controlo da situação. Isto é, deve esperar pelas respostas às propostas que vai fazendo e não o inverso. Neste momento, parece que o medo de falhar está a sobrepor-se ao imperioso critério (em termos comunicacionais, claro) de liderar o debate político. Como um dia disse Mao Tsé Tung “a política é uma guerra sem derramamento de sangue”. E quando não se vai ao combate, correr-se o risco de a opinião pública classificar esta escolha como uma deserção.
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Este Governo, frágil como é, tem de se afirmar no espaço mediático.