Primeiros fundos tokenizados em “desenvolvimento”
Nuno Lima Luz explica que a criação dos primeiros ETF sobre o preço da bitcoin estão a ter reflexo no interesse dos investidores portugueses por criptoativos.
AUnião Europeia (UE) abriu a porta às representações virtuais de ações, obrigações e de unidades de participação em fundos de investimento em todos os Estados-membros, com a aprovação de um regulamento que enquadra esta matéria, o “Dlt-pilot”. Apesar deste enquadramento jurídico, em Portugal ainda não há fundos de investimento dedicados a este novo universo da tokenização. O cenário poderá estar, contudo, prestes a mudar, segundo revela o presidente da Associação Portuguesa de Blockchain e Criptomoedas (APBC), Nuno Lima Luz, em entrevista ao Negócios.
O dirigente associativo adianta que “há alguns [fundos] que estão em desenvolvimento neste sentido” da tokenização, não querendo avançar mais informações antes de estarem concretizados. Comparando Portugal com os restantes Estados-membros da UE, nomeadamente Espanha, o país está “um pouco atrasado”, considera Nuno Lima Luz, defendendo que “tem a ver com a situação económica” no país. “Face a outros países, Portugal não é tão desenvolvido economicamente, portanto, não há tanto acesso a capital. E como não há tanto capital também não há assim tanta criação de novos produtos ou serviços nestas matérias”, explica o também advogado da Cuatrecasas.
Já em Espanha “estão muito mais avançados e já há várias empresas que adotaram [o DLT Pilot] e que já estão operacionais ao abrigo desta ‘sandbox’ regulatória”, destaca Nuno Lima Luz.
Interesse pela bitcoin cresce em Portugal
Se, por um lado, a tendência da tokenização das unidades de participação de fundos de investimento ainda não contagiou Portugal, por outro, os primeiros fundos norte-americanos negociados em bolsa (ETF na sigla em inglês) – que foram aprovados pelos EUA no arranque deste ano – já estão disponíveis no país, através de vários intermediários financeiros, incluindo bancos.
Estes instrumentos acabaram por fomentar o interesse pela bitcoin, e pelo mercado cripto em geral, e o país não foi exceção. “Tem havido mais interesse”, constata o líder da APBC. Porém, não tem “números exatos”.
A procura por estes ETF levou a que crescessem “o preço, a procura e a atratividade” pela bitcoin, diz. E “quando o preço da bitcoin sobe, todo o setor da criptoeconomia vai atrás”, salienta Nuno Lima Luz. Por outro lado, “quando o preço está em valores mais elevados, o que se vê são pessoas a aparecerem com uma perspetiva puramente especulativa”, considera o líder da associação representativa do setor cripto.
Por norma, estes investidores não compram “quando deviam comprar, que era quando [a bitcoin] estava em baixa”, critica o líder da APBC. “E depois também vendem, assim que há uma derrapagem porque não estão habituados a acompanhar a volatilidade normal do ativo”, acrescenta Nuno Lima Luz.
Este tipo de investidores distinguem-se de outros que se mantêm firmes no mercado de criptoativos, sem largar as suas bitcoins, apesar da volatilidade, mesmo em cenários de queda das cotações das criptomoedas. Para o presidente da Associação de Blockchain e Criptomoedas, estes investidores são “todos os outros [que não os especuladores e que] estão aqui muito a longo prazo e percebem como é que a bitcoin funciona”, acrescenta.
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“Há alguns [fundos] que estão em desenvolvimento neste sentido [da tokenização]. NUNO LIMA LUZ Presidente da APBC