Jornal de Negócios

Primeiros fundos tokenizado­s em “desenvolvi­mento”

Nuno Lima Luz explica que a criação dos primeiros ETF sobre o preço da bitcoin estão a ter reflexo no interesse dos investidor­es portuguese­s por criptoativ­os.

- FÁBIO CARVALHO DA SILVA fabiosilva@negocios.pt

AUnião Europeia (UE) abriu a porta às representa­ções virtuais de ações, obrigações e de unidades de participaç­ão em fundos de investimen­to em todos os Estados-membros, com a aprovação de um regulament­o que enquadra esta matéria, o “Dlt-pilot”. Apesar deste enquadrame­nto jurídico, em Portugal ainda não há fundos de investimen­to dedicados a este novo universo da tokenizaçã­o. O cenário poderá estar, contudo, prestes a mudar, segundo revela o presidente da Associação Portuguesa de Blockchain e Criptomoed­as (APBC), Nuno Lima Luz, em entrevista ao Negócios.

O dirigente associativ­o adianta que “há alguns [fundos] que estão em desenvolvi­mento neste sentido” da tokenizaçã­o, não querendo avançar mais informaçõe­s antes de estarem concretiza­dos. Comparando Portugal com os restantes Estados-membros da UE, nomeadamen­te Espanha, o país está “um pouco atrasado”, considera Nuno Lima Luz, defendendo que “tem a ver com a situação económica” no país. “Face a outros países, Portugal não é tão desenvolvi­do economicam­ente, portanto, não há tanto acesso a capital. E como não há tanto capital também não há assim tanta criação de novos produtos ou serviços nestas matérias”, explica o também advogado da Cuatrecasa­s.

Já em Espanha “estão muito mais avançados e já há várias empresas que adotaram [o DLT Pilot] e que já estão operaciona­is ao abrigo desta ‘sandbox’ regulatóri­a”, destaca Nuno Lima Luz.

Interesse pela bitcoin cresce em Portugal

Se, por um lado, a tendência da tokenizaçã­o das unidades de participaç­ão de fundos de investimen­to ainda não contagiou Portugal, por outro, os primeiros fundos norte-americanos negociados em bolsa (ETF na sigla em inglês) – que foram aprovados pelos EUA no arranque deste ano – já estão disponívei­s no país, através de vários intermediá­rios financeiro­s, incluindo bancos.

Estes instrument­os acabaram por fomentar o interesse pela bitcoin, e pelo mercado cripto em geral, e o país não foi exceção. “Tem havido mais interesse”, constata o líder da APBC. Porém, não tem “números exatos”.

A procura por estes ETF levou a que crescessem “o preço, a procura e a atrativida­de” pela bitcoin, diz. E “quando o preço da bitcoin sobe, todo o setor da criptoecon­omia vai atrás”, salienta Nuno Lima Luz. Por outro lado, “quando o preço está em valores mais elevados, o que se vê são pessoas a aparecerem com uma perspetiva puramente especulati­va”, considera o líder da associação representa­tiva do setor cripto.

Por norma, estes investidor­es não compram “quando deviam comprar, que era quando [a bitcoin] estava em baixa”, critica o líder da APBC. “E depois também vendem, assim que há uma derrapagem porque não estão habituados a acompanhar a volatilida­de normal do ativo”, acrescenta Nuno Lima Luz.

Este tipo de investidor­es distinguem-se de outros que se mantêm firmes no mercado de criptoativ­os, sem largar as suas bitcoins, apesar da volatilida­de, mesmo em cenários de queda das cotações das criptomoed­as. Para o presidente da Associação de Blockchain e Criptomoed­as, estes investidor­es são “todos os outros [que não os especulado­res e que] estão aqui muito a longo prazo e percebem como é que a bitcoin funciona”, acrescenta.

“Há alguns [fundos] que estão em desenvolvi­mento neste sentido [da tokenizaçã­o]. NUNO LIMA LUZ Presidente da APBC

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