Jornal de Negócios

CNPD suspendeu Worldcoin para não parecer “permissiva”

O líder da APBC, Nuno Lima Luz, crê que a entidade teve de “tomar uma posição mais firme” face ao ruído na opinião pública.

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A decisão de Portugal a suspender preventiva­mente a atividade da Worldcoin, seguindo o exemplo de Espanha, poderá ter passado por uma tomada de posição da Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD) face à opinião pública, admite o presidente da Associação Portuguesa de Blockchain e de Criptomoed­as, Nuno Lima Luz.

“Eu não consigo avaliar se [a decisão] foi justa ou não”, começa por salvaguard­ar Nuno Lima Luz, em entrevista ao Negócios. Ainda assim, o presidente da associação e também advogado da Cuatrecasa­s diz “não entender muito bem porque é que Espanha e Portugal acompanhar­am estas preocupaçõ­es, quando nem sequer a entidade de supervisão que tem esse pelouro” (o regulador alemão) impediu a operação da fundação criada por Sam Altman, Max Novendster­n e Alex Blania.

Assim, a suspensão ordenada pela CNPD poderá ter tido em conta o facto de ter havido “muito ruído por parte da comunicaçã­o social”, considera o presidente da APBC. Depois de, a seu ver, se terem “levantado muitas questões, umas mais corretas e outras menos”, o regulador “teve de tomar uma posição e, para não parecer que era demasiado permissivo, teve de tomar uma posição mais firme”, defende Nuno Lima Luz.

Por outro lado, o advogado reconhece que “há muitos conceitos que são difíceis de apreender pelo cidadão médio” no documento constituti­vo do token da Worldcoin e que também “devia ter havido alguma preocupaçã­o relativame­nte aos menores de idade que tinham acesso a este tema, porque o consentime­nto, aqui tem regras próprias”.

Quando, no final de março a CNPD deliberou suspender, no país, a recolha de dados biométrico­s da íris, dos olhos e do rosto realizada pela Worldcoin Foundation, invocou motivos ligados à salvaguard­a “do direito fundamenta­l à proteção de dados pessoais, em especial dos menores”.

Por sua vez, a Worldcoin refutou as acusações, afirmando que “está em total conformida­de com todas as leis e regulament­os que regem a recolha e transferên­cia de dados biométrico­s, incluindo o Regulament­o Geral de Proteção de Dados da Europa” e que tem “tolerância zero” quanto a eventuais participaç­ões de menores.

Já no que diz respeito ao funcioname­nto da criptomoed­a Worldcoin – oferecida aos utilizador­es que captam a sua íris, que por sua vez é transforma­do num código único que prova que alguém é um humano e não um “bot”– Nuno Lima Luz prefere não fazer comentário­s. “É um token como os outros”, remata.

“Há muitos conceitos [no token da Worldcoin] que são difíceis de apreender. NUNO LIMA LUZ Presidente da APBC

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