O regresso de Paddy Cosgrave à Web Summit é arriscado?
Especialistas em comunicação têm perspetivas diferentes sobre as consequências da decisão de Cosgrave. Será que já sanou as diferenças com Israel e as multinacionais que boicotaram a Web Summit? Ou está a fazer um “jogo muito perigoso?”
Como se tivesse tirado um período sabático, sem fazer referência ao terramoto que as suas declarações, em outubro passado, provocaram na Web Summit, Paddy Cosgrave anunciou esta segunda-feira, de forma surpreendente, o regresso a presidente executivo daquele certame em Lisboa.
“Hoje estou de volta como CEO da Web Summit. Quando me afastei no ano passado, foi a primeira vez que tirei uma folga em 15 anos”, escreveu Paddy Cosgrave na rede social X, acrescentando que teve “tempo para pensar na Web Summit, na sua história” e nos seus objetivos iniciais. “Aproveitei o tempo para me reconectar com velhos amigos da Web Summit”, disse ainda – sem dizer quais –, garantindo que ouviu “o que tinham para dizer”.
Afirmando que quer “construir comunidades ainda mais fortes” neste evento, Paddy Cosgrave deu também um sinal de querer mudanças: “À medida que a Web Summit se torna maior, o nosso objetivo deve ser torná-la mais pequena para os nossos participantes. Mais íntima. Mais convivial”, revelou, garantindo que está “incrivelmente entusiasmado”.
Encenação para acalmar os investidores?
Rodrigo Viana de Freitas, CEO da Central de Informação, admite que a demissão de Cosgrave em outubro possa “ter sido meramente encenada para acalmar os investidores e principais parceiros do evento”. Na altura, “foi necessária uma solução que parecesse radical, para que agora, cinco meses depois, a sua liderança deixasse de ser um problema”, afirma ao Negócios.
O responsável da agência de comunicação acredita ainda que se Cosgrave assume o regresso “é porque está definitivamente sanada a relação com Israel e com as principais tecnológicas”.
Seja como for, é um episódio paradigmático: “As crises reputacionais são passageiras, o que é hoje uma certeza amanhã poderá não ser e os valores das marcas e dos seus gestores podem ser condicionados pelo poder do capital”, conclui.
“[Saída ter sido de meramente Paddy] pode encenada para acalmar investidores e principais parceiros. RODRIGO VIANA DE FREITAS CEO da Central de Informação “Vamos ver o que acontece agora neste jogo muito perigoso de quem parece ter mais princípios. DANIEL SÁ Diretor executivo do IPAM
Pressão sobre a Web Summit “pode voltar com força”
Daniel Sá, diretor executivo do Instituto Português de Administração de Marketing (IPAM), sublinha, por outro lado, que Cosgrave “nunca disse que se afastaria para sempre”. E diz não ter a certeza “se Paddy volta porque quer ou se volta porque mais ninguém quer”.
O especialista em marketing acredita ainda que “a pressão pode voltar com força” sobre a Web Summit. Em outubro passado, algumas das maiores tecnológicas mundiais boicotaram o evento depois de Paddy Cosgrave ter sugerido que Israel estava a cometer crimes de guerra na Faixa de Gaza, após o ataque do Hamas. E de seguida, apesar do pedido de desculpas, acabaria por apresentar a demissão de CEO. Foi substituído por Katherine Maher, a antiga diretora executiva da Wikimedia Foundation, que liderou o evento de novembro mas saiu no mês passado.
“Vamos ver o que acontece agora neste jogo muito perigoso de quem parece ter mais princípios”, afirma Daniel Sá.
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