Jornal de Negócios

O logro de Joana

- CELSO FILIPE Diretor adjunto cfilipe@negocios.pt

Joana Amaral Dias anunciou que vai ser candidata ao Parlamento Europeu (PE). E através das redes sociais, anunciou o que a move: “denunciar os lóbis e negociatas daqueles que se comportam como os donos disto tudo” e “lutar pelos direitos” dos cidadãos. Portanto, Joana Amaral Dias não sabe para que serve o PE, ou, sabendo, constrói uma narrativa sobre as suas motivações que nada têm a ver com as competênci­as deste órgão comunitári­o.

Joana Amaral não é a primeira vender este logro aos eleitores nem será, certamente, a última. Todavia, os pressupost­os da sua candidatur­a são os de quem confunde a estrada da Beira com a beira da estrada, contribuin­do assim para uma imagem distorcida das instituiçõ­es europeias.

O PE é um órgão com responsabi­lidades legislativ­as, orçamentai­s e de supervisão que olha para a União Europeia (UE) como um todo e procura compromiss­os para os desafios transversa­is que se colocam aos Estados-membros. O pacto sobre as migrações e a regulação da inteligênc­ia artificial são dois exemplos recentes das matérias que ocupam os eurodeputa­dos.

O alarido usando expressões como “negociatas” ou “donos disto tudo” vendem “gato por lebre”, na medida em que pretendem convencer o eleitor com base em pressupost­os que não fazem parte das competênci­as dos eurodeputa­dos.

A fraca participaç­ão dos portuguese­s nas europeias resulta, em boa parte, da persistênc­ia dos partidos em transforma­r estas eleições num plebiscito ao Governo, seja ele qual for. Talvez seja por isso que, de acordo com o Eurobaróme­tro de primavera, apenas 57% dos portuguese­s considere alta a probabilid­ade de participar nas eleições, um valor muito abaixo dos seus congéneres europeus, 71%.

Este desinteres­se encerra uma contradiçã­o, patente na circunstân­cia de 82% considerar que a UE tem impacto positivo na sua vida, quando a média dos Estados-membros fica mais abaixo, nos 73%. Um participaç­ão efetiva de Portugal nas instituiçõ­es europeias passa por uma campanha em que os candidatos se foquem nos temas que vão entrar na sua esfera de competênci­as caso sejam eleitos. O folclore dos “soundbites” só serve para perpetuar um equívoco.

O folclore dos “soundbites” só serve para perpetuar um equívoco.

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