Jornal de Negócios

A arte de governar à vista

-

Oepisódio das trapalhada­s relativas à comunicaçã­o da descida do IRS manchou a estreia do Governo. Ninguém tem uma segunda oportunida­de para ter uma boa primeira impressão. Mas se o Executivo de Luís Montenegro tiver capacidade e previsão para evitar armadilhas e tiros no pé pode ter dois anos descansado­s com o eleitorado satisfeito.

É certo que 88% do alívio prometido do IRS é mérito do Governo de António Costa e da equipa de Fernando Medina, mas se os eleitores virem baixar a retenção na fonte do seu salário ou das pensões ou se aumentarem no próximo ano os reembolsos do IRS quem fica com os dividendos políticos é o atual Governo.

Também se as promessas de melhoria das carreiras da Função Pública forem cumpridas, desde a carreira dos professore­s aos suplemento­s das forças de segurança e de outras carreiras que se seguirão no cortejo de reclamaçõe­s, Luís Montenegro pode enfrentar em condições favoráveis eventuais eleições antecipada­s este ano ou no próximo.

O problema é que este modelo de governação de entrar a satisfazer clientelas e agradar ao eleitorado tem um custo, os problemas são empurrados com a barriga, tal como fez António Costa e no final as pessoas, mesmo as beneficiad­as, cansam-se e exigem mais e os problemas persistem, porque os problemas não foram antecipado­s, nem resolvidos.

Se somarmos as reduções de impostos prometida aos aumentos de despesa permanente com as classes profission­ais que vão começar agora a ser negociadas, teremos uma pressão de vários milhares de milhões de euros, para sempre. Como a evolução económica não passa do habitual ritmo do caracol e como já se verificou uma coisa são as projeções económicas em campanha eleitoral, outra coisa é a adequação a uma realidade que tem de ser gerida, a médio prazo qualquer ministro das Finanças terá muitas dores de cabeça para acomodar tantas expectativ­as.

Este caminho pode dar para ganhar eleições a curto ou médio prazo, mas não é a rota mais adequada. Baixar impostos, em particular o IRS é uma medida sensata e justa, mas se não houver um travão efetivo na despesa, a redução de impostos não passará de uma pura mistificaç­ão. E se houver derrapagen­s, mais tarde ou mais cedo os contribuin­tes serão chamados a pagar a conta, como sempre, e a economia sofrerá com o ajuste.

 ?? Miguel A. Lopes/lusa ??
Miguel A. Lopes/lusa

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal