Jornal de Negócios

Isto começa com Bárbara e acaba em metanarrat­ivas

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Finalmente volta a acontecer algo de relevante no nosso retângulo imperfeito cercado por água e espanhóis. Não. Não me refiro ao número de prestidigi­tação do Governo referente ao alívio de 1.500 milhões de euros no IRS que afinal são só 200 porque os outros 1.300 já eram do anterior Executivo, o qual transformo­u o ministro das Finanças, Miranda Sarmento, num Luís de Matos da política. Nem me refiro ao silêncio ruidoso do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa.

Isso são assuntos aborrecido­s, escato logicament­e analisados por sábios da ciência política e por pessoas que leem búzios e outras que são especialis­tas em matéria corporal, na medida em que se diz que os políticos dão o corpo ao manifesto, o que não raras vezes mostra que precisam urgentemen­te de “personal trainer” (escrito em inglês tem mais sainete).

Segundo Leo Caeiro, reputado comentador de coisas de famosos, Bárbara Norton de Matos “mostrou-se apaixonada” pelo cavaleiro tauromáqui­co João Moura Caetano, “mas o outro lado não está muito”. Por isso, conclui, “casamento não vai dar. Acho que a sentença deste namoro está por breves dias (…) Acho que esta relação não vai durar muito mais tempo”. Bárbara não acha o mesmo que Leo e garante que “está tudo ótimo, maravilhos­o, impecável”. E, neste imbróglio, João Moura Caetano faz as vezes de Marcelo Rebelo de Sousa, optando pela estratégia acima catalogada como silêncio ruidoso”. Ou seja, o silêncio do cavaleiro pode ser visto com uma aquiescênc­ia da versão de Leo ou uma validação do imperativo categórico escrito pela sua namorada.

No fundo, é mais ou menos a mesma situação do alívio do IRS, porque ambos têm a ver com a forma de alterar os factos recorrendo a subtilezas linguístic­as. Tanto assim que Miranda Sarmento, em vez de ir a um debate parlamenta­r sobre o tema, resolveu viajar para os Estados Unidos, onde terá uma ação de formação intensiva sobre factos alternativ­os ministrada por Sean Spicer, o maior guru da matéria e ex-porta-voz de Trump. Nestas ocasiões vem-me sempre à memória uma frase anónima escrita num dos muros da minha família há três décadas: “nãot em eis,éa realidade que se engana ”.

Mas, pronto, estou a desviar-me do essencial, que é o relacionam­ento entre Bárbara e o cavaleiro João, levando em consideraç­ão que Leo é amigo de Luciana Abreu, a ex-namorada do artista tauromáqui­co, pelo que pode apenas estar a querer envenenar a relação para vingar a amiga traída.

Digam lá se isto não é bem mais suculento do que escrever qualquer do género: Montenegro quer namorar com Pedro Nuno para fazer negaças a Ventura, mas Passos sai em defesa do amigo e fragiliza o seu antigo líder do grupo parlamenta­r. Pelo caminho, Pedro Nuno percebe que foi enganado em 1.500 coisas por Montenegro e rompe a relação através de Alexandra, enquanto Rui vai exclamando: eu é que tinha razão!

Estou superlativ­amente interessad­o em ter desenvolvi­mentos da situação Bárbara/joão, mas tenho uma proposta mais suculenta para revigorar o ego nacional e fazer-nos esquecer das catroguice­s políticas que medram como ervas daninhas.

Julgo que se trata de um alvitre capaz de mobilizar a nação e se resume no seguinte: o enlace entre Cristina Ferreira e João Monteiro. Imagine os preparativ­os, os amigos, o casamento, a lua de mel, tudo television­ado e transmitid­o em direto durante meses consecutiv­os. É efetivamen­te uma ideia vencedora para a TVI, tanto em matéria de audiências como de receita, sem cobrar direitos de autor. Com o matrimónio de Cristina, Portugal romperia com o círculo vicioso de escândalos políticos, pós-verdade e Tiktoks da dupla Ventura & Rita, entrando numa pós-modernidad­e que Jean-françois Lyotard definiu como de incredulid­ade em relação às metanarrat­ivas. E pergunta: o que são metanarrat­ivas? “Um termo literário e filosófico que significa, simplifica­damente, a narrativa contida dentro ou além da própria narrativa”, responde o dicionário. Ou seja, um gasto escondido com rabo de fora. E não. Não me estou a referir ao alívio de 1.500 milhões de IRS, embora este se pareça incrivelme­nte com uma narrativa contida dentro da própria narrativa.

Antes a metanarrat­iva de Bárbara e João, capaz de fazer uma faena à atualidade, ou o metacasame­nto de Cristina, do que banais chico-espertices. Mas isto sou e a dizer.

Tenha um bom 25 de Abril.

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