UM ROMANCE PARA ESTES TEMPOS
Leram algum escritor turco recentemente? Pois, eu também não tinha lido até encontrar “Pedra e Sombra”, de Burhan Sönmez, que é considerado como um dos mais inovadores autores da literatura turca e curda actual. Algumas das análises sobre a sua obra apontam para comparações de Burhan com realistas mágicos como Borges e García Márquez. Outros, como o diário parisiense Le Figaro, escrevem que “Pedra e Sombra” “põe em cena, através de uma arte narrativa estrondosa, personagens cujos destinos se enlaçam com a tumultuosa história da Turquia do século XX.” Na realidade, “Pedra e Sombra” é um romance épico que traça o retrato de uma sociedade complexa, fruto do legado de cristãos, muçulmanos sunitas, dervixes, turcos, curdos, arménios e gregos. Neste romance, Burhan Sönmez elabora uma construção narrativa com solavancos temporais de séculos, décadas e até mesmo de horas dentro de um único dia, imprimindo um ritmo e um mistério invulgares. “Quem não tem memória da sua infância não pode conhecer-se a si mesmo… Perder a própria terra quer dizer perder a memória”, lamenta-se o protagonista desta história, homem simples, mas de profundo entendimento da condição humana. São dele também estas palavras, tão actuais hoje em dia: “A guerra vira a vida de pernas para o ar.
Dá cabo das famílias, das cidades e dos estados. Depois, um dia acaba, mas nessa altura já nada é como antes”. Esta proximidade geográfica e histórica aos mais recentes acontecimentos no Médio Oriente são uma razão suplementar para ler este romance. A tradução é de J. Teixeira de Aguilar e a edição é da Livros do Brasil.