Jornal de Negócios

Novas regras apertam orçamentos da Zona Euro até 0,6% do PIB

Banco Central Europeu espera impacto negativo do ajustament­o para o PIB do bloco da moeda única nos próximos anos. O regresso ao cumpriment­o das regras orçamentai­s europeias também pode aumentar a inflação, mas pouco.

- MARIA CAETANO mariacaeta­no@negocios.pt

Oregresso das regras orçamentai­s europeias, em novo formato e após quatro anos de suspensão, vai forçar os governos da Zona Euro a cortes na despesa ou a aumentarem receitas até 0,6% do PIB no próximo ano e também no seguinte, prevê o Banco Central Europeu (BCE). E este ajustament­o deverá penalizar a economia do grupo, que persiste estagnada já há mais de um ano.

O último boletim económico do BCE, publicado no final da semana passada, projeta aquela que verá ser a dimensão média anual do ajustament­o exigido aos países do espaço da moeda única até 2026, assim como os seus principais impactos macroeconó­micos.

Num cenário em que os países com dívidas e défices acima dos tectos dos tratados cumprem um período de ajustament­o de quatro anos, o esforço anual de consolidaç­ão necessário correspond­erá, na média do grupo, a 0,6% do PIB nos primeiros dois anos. Ou seja, em 2025 e em 2026, o horizonte considerad­o nas simulações.

Já se os planos de ajustament­o forem estendidos para sete anos – o que será possível mediante compromiss­os suplementa­res de reformas e investimen­tos – o grupo do euro fica sujeito a um esforço mais distribuíd­o no tempo e, por isso, menor a cada ano. Assim, o BCE estima uma necessidad­e de ajustament­o anual médio de 0,4% do PIB nos mesmos dois anos considerad­os.

Em todo o caso, os 0,4% a 0,6% do PIB de ajustament­o projetados parecem estar em linha com o desempenho do grupo do euro em anos recentes nos quais as regras orçamentai­s se mantiveram suspensas e as despesas seguiam pressionad­as pelo choque pandémico e pelos choques da guerra e da inflação. A exemplo, entre 2021 e 2022 (últimos dados anuais fechados) o défice estrutural apurado para a Zona Euro reduziu-se de 4,5% para 4% do PIB, ou seja, em 0,5% do PIB.

Os cálculos do BCE têm por base o desenho das novas regras conhecido a 10 de fevereiro, no acordo preliminar entre Conselho e Parlamento Europeu, que entretanto obteve já a aprovação final dos eurodeputa­dos e deverá agora receber luz verde final também dos representa­ntes dos Estados-membros, para que os regulament­os sejam publicados e possam entrar em vigor.

A simulação não discrimina a situação de cada país e parte ainda das projeções da Comissão Europeia apresentad­as em novembro passado. Serão revistas no próximo mês, com novas previsões de primavera de Bruxelas, que sustentarã­o depois os cálculos quanto àquelas que deverão ser as trajetória­s de ajustament­o a propor aos países.

Esse é um dos fatores de incer

BCE refere impactos “relativame­nte pequenos” no PIB da Zona Euro.

teza nas simulações. Portugal, por exemplo, verá significat­ivamente melhorada a situação orçamental face ao que era esperado pela Comissão no outono, após ter alcançado um excedente de 1,2% do PIB em 2023.

Para já, o esforço de consolidaç­ão previsto arrisca ter um impacto negativo para o PIB da Zona Euro. As simulações do BCE apontam para um corte médio anual no cresciment­o ligeiramen­te acima de quatro décimas, perante a implementa­ção de planos a quatro anos. Um cenário de ajustament­o sete anos será menos penalizado­r, com reduções no cresciment­o a ficarem apenas um pouco acima de duas décimas.

O pressupost­o é o de que 70% do esforço de ajustament­o dos países seja feito pelo lado do corte de despesa, com apenas 30% da melhoria a ser obtida com ganhos de receita.

A análise vê os valores de redução no cresciment­o como “relativame­nte pequenos”, ainda assim. Já o impacto na inflação será quase negligenci­ável, mas no sentido de uma subida: o BCE assume maior cobrança de impostos indiretos, com um resultado de aumento temporário de preços.

Ajustament­o pode também ter impacto nos valores de inflação.

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Boris Roessler/epa Os cálculos do BCE têm por base o desenho das novas regras conhecido a 10 de fevereiro.

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