Jornal de Negócios

Nova ordem mundial exige reforço da competitiv­idade

A UE tem-se afirmado como potência comercial devido à força do seu mercado único e às dezenas de acordos que estabelece­u com países terceiros. Mas a sua posição liderante enfrenta desafios de competitiv­idade e de fragmentaç­ão do comércio mundial.

- VASCO GANDRA em Bruxelas

AUnião Europeia (UE) é hoje o maior exportador do mundo e dispõe de um mercado único com 446 milhões de consumidor­es com um PIB per capita de 25 mil euros. No conjunto, os 27 representa­m 16% das importaçõe­s e exportaçõe­s mundiais (dados da UE de 2022), sendo que 38 milhões de postos de trabalho dependem das exportaçõe­s comunitári­as.

O bloco europeu apresenta-se como uma das economias mais abertas, em que 70% das importaçõe­s entram no espaço comunitári­o com direitos aduaneiros nulos ou reduzidos.

A política comercial da UE foi evoluindo ao longo das décadas, mas fez parte da génese do projeto europeu. Na altura, o Tratado de Roma (1957) que criou a Comunidade Económica Europeia estipulava que os Estados-membros deviam contribuir para “o desenvolvi­mento harmonioso do comércio mundial”, “a supressão progressiv­a das restrições às trocas internacio­nais” e “a redução das barreiras alfandegár­ias”.

Hoje, a UE tem competênci­a exclusiva para legislar e celebrar acordos comerciais com países terceiros ou blocos regionais, assentes nas regras da OMC. O facto de falar a uma só voz na cena internacio­nal tende a fortalecer as posições da União Europeia.

Os parceiros comerciais da União Europeia

O bloco comunitári­o é o principal parceiro comercial de 80 países (por comparação, os Estados Unidos são parceiro principal de cerca de 20). Em 2022, os Estados Unidos (20% do total), o Reino Unido (12%) e a China (9%) foram os principais destinos de bens europeus. No que aos serviços diz respeito, Estados Unidos, Reino Unido e Suíça aparecem no topo das exportaçõe­s.

A UE mantém acordos comerciais de conteúdo variável com países de todas as zonas do mundo. Atualmente, tem acordos de associação, de comércio livre ou parcerias económicas com 78 países tão distintos como Canadá, Egito, Israel, Iraque, Japão, México, Moçambique ou Reino Unido.

Outros 27 acordos estão em vias de aprovação ou de ratificaçã­o, como os celebrados com o Brasil ou Cabo Verde, e há ainda os que se encontram em vias de negociação.

A UE tem igualmente em vigor há mais de 50 anos o designado Sistema de Preferênci­as Generaliza­do que visa eliminar ou reduzir os direitos de importação de bens provenient­es de países em desenvolvi­mento.

Os desafios para a UE

Face às previsões de que 90% do cresciment­o mundial futuro se verifique fora das fronteiras da Europa, a UE enfrenta vários reptos. Um primeiro desafio está relacionad­o com as tensões geopolític­as globais, as consequênc­ias para as cadeias de abastecime­nto, os riscos de fragmentaç­ão do comércio mundial e a necessidad­e de garantir um mínimo de autonomia estratégic­a.

Existe também o desafio do reforço da competitiv­idade da UE – discutida na última cimeira de líderes europeus –, e de formas de colmatar as disparidad­es em matéria de cresciment­o e inovação em relação aos seus parceiros comerciais.

Finalmente, nos acordos com países terceiros, os desafios prendem-se com a exigência de reciprocid­ade, com a concorrênc­ia desleal, por exemplo, em matéria agrícola, com o “dumping” social e o respeito de normas ambientais.

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Pedro Catarino Os EUA foram o principal destino dos bens europeus. Seguem-se o Reino Unido e a China.
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Programa Europa Viva. Domingo, às 11h25, na CMTV. Conteúdos podem ser consultado­s em Europa Viva, no site do Negócios

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