Empresas esperam impactos da IA generativa dentro de três anos
A aposta nesta tecnologia continua a crescer, com a maior parte das empresas a antecipar efeitos “transformativos” até 2027, revela um estudo da Deloitte sobre a IA generativa nas companhias. Em Portugal, cenário é idêntico, afirma Hervé Silva.
As empresas estimam que a inteligência artificial (IA) generativa – que está por detrás de modelos como o CHATGPT – tenha “impactos transformativos” nas suas organizações ao longo dos próximos três anos. A expectativa consta de um estudo da Deloitte sobre “O Estado da IA Generativa nas empresas”, a que o Negócios teve acesso e que conta com respostas de cerca de 2.800 especialistas e gestores em 16 países.
“A maioria dos inquiridos (79%) disse que espera que a IA generativa leve a uma transformação substancial dentro das suas organizações e na indústria ao longo dos próximos três anos”, refere o estudo.
O relatório em causa não engloba a geografia portuguesa, mas o cenário cá está “muito em linha com aquilo que é retratado” no documento, começa por explicar Hervé Silva, “partner” da Deloitte Portugal, em declarações ao Negócios. O consultor refere que são já vários os “use cases” a decorrer em território nacional, sendo que o caso “mais evidente e com maior aplicabilidade” está relacionado com a questão da personalização.
“Uma das vertentes com que a IA generativa consegue lidar muito bem é a dos dados não estruturados”, explica, acrescentando que o manancial de dados que hoje podem ser trabalhados permite ter experiências efetivamente personalizadas e em tempo real.
As empresas a nível global estão a concentrar esforços em soluções que resultem num aumento
“A componente de risco é a mais bloqueadora, não só na adoção, mas também na velocidade” HERVÉ SILVA “Partner” da Deloitte Portugal
da produtividade e eficiência, assim como na redução de custos. Mas não será isto que no futuro permitirá às empresas diferenciarem-se, alerta Hervé Silva. “Para ser diferenciador tenho que [enquanto empresa] optar por ‘use cases’ no meu ‘core’”, explica, acrescentando que “o grande desafio” é olhar para a IA Generativa numa perspetiva mais transformacional do processo.
E esse desafio não se deve apenas a questões de investimento. “São várias as dimensões. É necessário um esforço muito grande que é o de reimaginar como é que devo passar a funcionar com base na IA generativa. E depois, há uma outra componente, que é a de regulação”, justifica, acrescentando que “a componente de risco é capaz de ser a mais bloqueadora, não só na adoção, mas também na velocidade de adoção” desta tecnologia. Isto porque ainda não são claros os riscos que podem advir da tecnologia e da própria regulação.
Apesar de o estudo mostrar que a maior parte dos inquiridos considera necessário regular, uma potencial disparidade neste campo a nível global gera preocupação.
Impactos no trabalho
Os efeitos da IA no mercado de trabalho têm sido uma das questões que mais polémica tem levantado. Questionado sobre se a adoção da tecnologia irá levar a despedimentos, Hervé Silva diz que não é certo que “exista uma redução”, mas haverá fortes impactos. “Será requerido um conjunto de novas valências (…) a questão não é tanto se vou ser substituído pela IA generativa. Vou ser por alguém que sabe utilizar esta tecnologia”, explica.
Ainda assim, não tem dúvida que “há tarefas que vão ser totalmente substituídas”.
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