Jornal de Negócios

A degradação da instituiçã­o Presidênci­a

- CAMILO LOURENÇO Analista de economia camilolour­enco@gmail.com

As últimas declaraçõe­s de Marcelo Rebelo de Sousa confirmara­m que o país está órfão de um Presidente credível e logo num dos momentos mais delicados do pós 25 de abril.

Vejamos... Primeiro “vendeu” o filho na praça pública. Depois, ao qualificar a atuação da PGR de “maquiavéli­ca” (insinuando que o Ministério Público tem objetivos políticos), deu uma machadada na separação de poderes. De seguida, resolveu fazer uma incursão lamentável por terrenos sócio-étnicos, a raiar o racismo. Finalmente, inventou um problema que a sociedade portuguesa não tem: a ideia de indemnizar as ex-colónias. E como se isto não bastasse, no sábado tentou voltar atrás com o que tinha dito: sobre a PGR, disse que a ideia de maquiaveli­smo não é sua, mas uma crítica a opiniões de terceiros. E sobre as indemnizaç­ões, aviltou que a solução já está a ser aplicada, dando como exemplo linhas de crédito e ajudas aos países em causa.

Foi pior a emenda do que o soneto. Quando se referiu à PGR, percebeu-se claramente a alfinetada a Lucília Gago. No que respeita às “indemnizaç­ões”, o que disse é uma estupidez.

O deslize da semana passada vem na sequência de uma série de disparates que o Presidente tem vindo a colecionar. Só que desta vez foi longe demais. O que leva a perguntar se Marcelo está em condições de continuar no cargo. Não está: a degradação a que conduziu a instituiçã­o Presidênci­a raia o escândalo, tal a ligeireza com que se pronuncia sobre assuntos de Estado. Ora, como o país vai ter desafios enormes nos próximos anos, que precisam de um Presidente credível, talvez não seja má ideia os mais influentes começarem a segredar a Marcelo que o melhor é ir para casa mais cedo.

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