Volta ao Mundo

Joshua Slocum

Para o esquecimen­to e mais além Velejador, escritor (1844-1909)

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Boston,

24 de abril de 1895. O capitão Slocum levanta a âncora e lança-se, apenas ele e a chalupa Spray, no oceano imenso. Abria-se a era de ouro dos transatlân­ticos e o vapor, tecnologia de ponta, fazia da vela um anacronism­o. Restava, porém, uma derradeira odisseia marítima por cumprir. E era preciso um grande velejador para levá-la a bom porto. No dia em que embarcou na primeira viagem de circum-navegação em solitário, Joshua Slocum tinha 51 anos. Aos 14 fugiu de casa, juntando-se à tripulação de um pesqueiro. Regressou brevemente à Nova Escócia natal, mas a morte da mãe fê-lo partir de vez. Tinha 16 anos. Iniciou-se na navegação de águas profundas, em navios mercantes apontados à Europa, EUA e a portos e mares do resto do mundo. Em 1887, a barca Aquidneck encalhou no Brasil, deixando-o apeado a oito mil quilómetro­s de casa. Construiu, então, a canoa de vela que o levou de volta, e a travessia foi contada em livro. A sua grande obra, contudo, estaria ainda para vir. Esse capítulo começa com uma decrépita chalupa de 11 metros que lhe foi dada. Apostado em levá-la a dar a volta ao mundo, Slocum entregou-se ao longo trabalho de restauro. Entre 1895 e 1898, juntos fizeram uma viagem de 74 mil quilómetro­s, passando por Açores, Gibraltar, Canárias, estreito de Magalhães, Austrália, África do Sul, Caraíbas e por fim Rhode Island. De caminho, Slocum fugiu de piratas, foi tomado por Anticristo, chegou a navegar 72 dias sem ver vivalma. Em 1900, esses episódios foram compilados numa das grandes narrativas da literatura de viagens. Sailing Alone around the World colheu rasgados elogios, incluindo do escritor Arthur Ransome – «os rapazes que não gostarem deste livro deverão ser afogados de imediato». Slocum, por seu lado, nunca aprendeu a nadar. E aí estará a resposta ao mistério que se levantou após 14 de novembro de 1909. Levantou âncora da ilha de Martha’s Vineyard, rumo às Antilhas, como fizera em tantas outras ocasiões. Dessa vez não regressou. «Deves conhecer o mar», escreveu no seu livro. E não te esqueças de que ele foi feito para ser navegado.»

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