Volta ao Mundo

VIAGEM AO DESERTO

RICARDO GOMES Já viveu em 11 países, quase sempre a trabalhar em hotelaria de luxo. Mas quando viaja, procura o oposto: o autêntico, natural e intocado. Encontrou-o no Sara, onde já foi duas vezes e jura voltar.

- TEXTO DE BÁRBARA CRUZ

Vai estudar um ano para o estrangeir­o», dizia o poster colocado no Liceu Pedro Nunes, em Lisboa. Ricardo Gomes, na altura com 16 anos e a morar em Carnaxide com a família, já tinha pedido para estudar na capital e «alargar horizontes»; encontrar na escola a possibilid­ade de um intercâmbi­o durante um ano letivo foi música para os seus ouvidos. Inscreveu-se e, no ano seguinte, foi para os EUA, onde viveu com uma família de acolhiment­o no Texas. Hoje, aos 40 anos, admite que foi esta a experiênci­a que o moldou: no regresso, indeciso sobre o que fazer na faculdade, acabou por entrar para a Escola de Hotelaria e Turismo do Estoril. Aposta certíssima, já que passou grande parte das últimas décadas a trabalhar para algumas das mais reconhecid­as cadeias internacio­nais de hotelaria. O gosto pelas viagens, que o fizera embarcar para o outro lado do Atlântico, não mais esmoreceu: fez Erasmus na Holanda e, na hora de voltar a Portugal, comprou uma Renault 4 em segunda mão e fez-se à estrada. Conduziu durante nove dias, parando pela Europa fora e, à chegada, mal desfez a mala, já a caminho de um estágio internacio­nal na Itália, ao abrigo do programa Leonardo da Vinci. O mestrado fê-lo entre França e Holanda. Agarrou todas as oportunida­des de estudar e se formar no estrangeir­o, uma espécie de preparação para o que estava para vir: até hoje, já viveu em 11 países diferentes, fala seis línguas e só no início de 2016 se instalou em Portugal de forma «menos provisória», para ficar algum tempo. Logo no início da carreira, depois de já estar a trabalhar num reputado hotel em Lisboa e ter sido transferid­o para o Algarve, quis ir para a Austrália. Conseguiu emprego e esteve lá um ano: trabalhou nove meses e tirou três para pôr a mochila às costas e dar a volta ao país com a namorada de então: em 90 noites, 80 foram passadas a acampar. Voltou para Portugal e começou a trabalhar em agências de turismo, abriu a sua própria empresa de eventos e, durante esse período, foi obrigado a acalmar em termos de deslocaçõe­s. «A empresa durou três anos, até eu decidir que estava na altura de fechar, voltar à hotelaria e, claro, voltar às viagens.» Foi em 2010. Desde esse ano, e até 2016, esteve dois anos na Argélia, três meses no Gabão, um ano e meio na Malásia, seis meses em Bali, três meses em Londres, um ano e três meses no Qatar. Enquanto trabalhava, ia viajando. Conseguiu visitar cerca de quarenta países. Mas admite que nenhum o marcou como a Argélia, onde viveu na cidade de Orã, e teve oportunida­de de viajar até ao deserto do Sara.

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